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terça-feira, 10 de maio de 2011

A menina que calou o mundo por 5 minutos


Olá, sou Severn Suzuki.

Represento a ECO, a organização das crianças em defesa do meio ambiente. Somos um grupo de crianças canadenses, de 12 a 13 anos, tentando fazer a nossa parte, contribuir: Wanessa Suttie, Morgan Geisler, Michelle Quigg e eu.
Todo o dinheiro que precisávamos para vir de tão longe, conseguimos por nós mesmos para dizer que voces adultos, têm que mudar o seu modo de agir.
Ao vir aqui hoje, não preciso disfarçar meu objetivo. Estou lutando por meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu futuro, não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores.

Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defender as crianças com fome, cujos apelos não são ouvidos.
Estou aqui para falar em nome dos incontáveis animais morrendo em todo o planeta, porque já não têm mais para onde ir.
Não podemos mais permanecer ignorados!

Hoje tenho medo de tomar sol por causa dos buracos na camada de ozônio. Tenho medo de respirar esse ar porque não sei que substâncias químicas o estão contaminando.
Eu costumava pescar em Vancouver com meu pai, até o dia em que pescamos um peixe com câncer. Temos conhecimento de que animais e plantas estão sendo destruídos a cada dia e, em vias de extinção.
Durante toda minha vida, eu sonhei ver grandes manadas de animais selvagens, selvas, florestas tropicais repletas de pássaros e borboletas, mas, agora eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo isso.
Voces se preocupavam com essas coisas quando tinham a minha idade?
Todas essas coisas acontecem bem diante dos nossos olhos e, mesmo assim, continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo e todas as soluções.

Sou apenas uma criança e não tenho soluções, mas quero que saibam que voces também não têm.

Voces não sabem como reparar os buracos da camada de ozônio!
Voces não sabem como salvar os salmões das águas poluídas!
Voces não podem ressuscitar os animais extintos!
Voces não podem recuperar as florestas que um dia existiram, onde hoje é deserto.
Se voces não podem recuperar nada disso, então por favor: parem de destruir!

Aqui, voces são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos. Mas na verdade, são mães e pais, irmãos e irmãs, tias e tios, e todos também são filhos.

Sou apenas uma criança, mas sei que todos nós pertencemos a uma sólida família de 5 (cinco) bilhões de pessoas e ao todo somos 30 (trinta) milhões de espécies, compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo.
Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar esta realidade!!!

Sou apenas uma criança, mas sei que esse problema atinge a todos nós e deveríamos agir como se fossemos um único mundo, rumo a um único objetivo.
Apesar da minha raiva, não estou cega. Apesar do meu medo, não sinto medo de dizer ao mundo como me sinto.
No meu país, geramos tanto desperdício, … compramos e jogamos fora,… compramos e jogamos fora,… e os países do Norte não compartilham com os que precisam. Mesmo quando temos mais do que o suficiente!!! Temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilhá-las.
No Canadá temos uma vida privilegiada com fartura de alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de TV.

Há dois dias aqui no Brasil ficamos chocados! Quando estivemos com crianças que moram nas ruas,.. ouçam o que uma delas nos contou:
“Eu gostaria de ser rica e se fosse, daria a todas as crianças de rua, alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho.”
E se uma criança de rua que não tem nada, ainda deseja compartilhar, porque nós que temos tudo somos ainda tão mesquinhos???

Não posso deixar de pensar que essas crianças têm a minha idade e que o lugar onde nascemos, faz uma grande diferença.
Eu poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio (Rio de Janeiro –BR). Eu poderia ser uma criança faminta da Somália. Uma vítima da Guerra do Oriente Médio ou uma mendiga da Índia.

Sou apenas uma criança, mas ainda assim sei que se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais,… que lugar maravilhoso a Terra seria!!!

Na escola desde o jardim da infância, voces nos ensinaram a:

* sermos bem comportados
* a não brigar com os outros
* a resolver as coisas bem
* a respeitar os outros
* arrumar nossas bagunças
* não maltratar outras criaturas
* dividir e não ser mesquinho

Então porque voces fazem justamente o que nos ensinaram a NÃO FAZER???

Não esqueçam o motivo de estarem assistindo a estas conferências. E para quem voces estão fazendo isso. Vejam-nos como seus próprios filhos. Voces estão decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer.
Os pais devem ser capazes de confortar seus filhos dizendo-lhes: “Tudo ficará bem”… “Estamos fazendo o melhor que podemos”…
Mas não acredito que possam nos dizer isso. Estamos sequer na sua lista de prioridades?

Meu pai sempre diz: “Você é aquilo que faz, não aquilo que você diz”.
Bem, o que voces fazem, nos fazem chorar a noite.
Voces adultos, nos dizem que voces nos amam. Eu desafio voces!
Por favor: façam as suas ações refletirem as suas palavras!

Obrigada.”
Discurso proferido por Severn Suzuki por ocasião da Conferência ECO-92 ocorrida no Brasil.  À época, uma garota de  apenas 12 anos. Hoje, ativista ambiental, palestrante internacional, apresentadora de TV, autora e membro ativo do painel sobre Meio Ambiente das Nações Unidas.

Um comentário:

  1. A mensagem proferida por essa menina nesta carta é bastante forte e comovente. Através dela podemos dar mais importancia à vida e a natureza.

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